Medição de planicidade e de nivelamento: o “dedo duro” da qualidade do piso

Medição de planicidade e de nivelamento: o “dedo duro” da qualidade do piso
17 de julho de 2016 Artigos Técnicos Nenhum comentário

É sabido que os pisos industriais são primos próximos de outras estruturas, como pavimentos rodoviários e radiers, uma vez que todas transmitirem diretamente esforços ao solo. Fugindo de comparações mirabolantes sobre diferenças de cálculo e esforços a que cada um deles é submetido, qual seria então a maior diferença de acabamento entre eles?

No piso industrial, pequenas variações superficiais causam grande impacto às operações industriais ou logísticas, fazendo com que o piso seja utilizado como um equipamento da industria ou do centro distribuição. Quando falamos em pequenas variações entendam como algo em torno de 3,0 mm em 0,6m para a planicidade, ou ainda de 10,0 mm a cada 3,0 m de piso para o nivelamento. A necessidade desse grau de precisão na finalização se deve ao fato do piso ser palco da utilização de máquinas, empilhadeiras e instalações de prateleiras que sustentam cargas altas e também elevadas alturas.

Mas calma: qual é mesmo a diferença entre planicidade e nivelamento?

Se o piso fosse um oceano, a planicidade seria as ondas, com sua amplitude e frequência. Já o nivelamento do piso se relaciona à sua inclinação com relação ao plano horizontal.

Mas enfim, como funcionam essas medições?

Estas medições são realizadas com um perfilômetro, mais conhecido como Dipstick. Como se observa na Figura 1, o equipamento é composto por haste fixada ao equipamento de medição, apoiada sobre duas bases circulares, distantes entre si de 30cm. Na haste também é fixado um palmtop com o software de medição. Seu funcionamento se dá a partir do registros (acumulação) das elevações diferenciais a cada 30 cm, sempre em relação ao ponto anterior da superfície do piso.

Figura 1

Figura 1: Equipamento de medição – Dipstick

As medições são realizadas de acordo com a norma americana ASTM E 1155 e a mínima quantidade amostral por faixa deve ser aquela que estatisticamente nos dê 90% de confiabilidade dos resultados obtidos. Todo esse processo de medição resulta em dois índices adimensionais: um de planicidade (FF) e outro para o nivelamento (FL) do piso, conhecidos como F-Number. A figura 2 apresenta o conceito de medição dos dois índices.

Figura 2         

Figura 2 – Representação do conceito de planicidade e de nivelamento

As leituras são realizadas por faixa de concretagem do piso, e devem ocorrer de acordo com a norma americana até 72h após a finalização dos trabalhos de acabamento, embora temos observado que as variações que ocorrem em medições em idades avançadas são muito pequenas para o nivelamento e desprezíveis para a planicidade. As medições são feitas linearmente de preferência em diagonais, limitadas pelas juntas de construção. Cada uma dessas linhas de leituras resultará em um par de valor do F-Number (Figura 3). Depois de realizadas as leituras de todas as linhas de medição, obtêm-se um valor combinado de F-Number da faixa de concretagem. O valor de F-Number do piso como um todo é calculado pela ponderação por área dos valores individuais obtidos em cada faixa de concretagem.  

Figura 3

Figura 3 – Perfil do piso em uma linha de medição

As tolerâncias para a planicidade e para o nivelamento do piso seguem as orientações da norma americana ACI 302, já que ainda não possuímos normas brasileiras que tratem do assunto.  A determinação de qual valor de FF e FL utilizar no projeto leva em consideração a máxima diferença em elevação entre duas medições consecutivas, no caso da determinação do índice de planicidade, ou a cada 3,0m para o nivelamento. Estas diferenças máximas em elevação estão intimamente relacionadas ao funcionamento adequado das empilhadeiras, que podem trepidar em excesso em pisos com baixos valores de FF, ou até inclinar lateralmente em casos de pisos com baixos valores de FL. Quem quer ficar ao lado de uma empilhadeira içando 2 toneladas a 12 metros de altura em um piso inclinado? A instalação das prateleiras também é prejudicada por pisos com baixos valores de FL, já que certos montantes terão que ser calçados para compensação do desnível. A tabela 1 apresenta valores usuais de FF e FL para diferentes obras.

Tabela

Tabela 1:  Valores usuais para obras correntes

Como podemos ver, os pisos industriais possuem tais características em certo grau paradoxais, por serem brutos e resistentes, e ao mesmo tempo precisos e de fino acabamento. Tudo isso em uma estrutura moldada in loco, com uma grande área superficial, mostrando a real necessidade da efetiva mensuração da qualidade final do piso quanto aos parâmetros estabelecidos de utilização. Daí a função de “dedo duro” da qualidade do piso: o Dipstick.

Eng. Daniel Bernardo


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