Fissuras tipo “couro de jacaré”: é de fato um problema?
As fissuras tipo couro de jacaré é um tipo de microfissuração superficial que ocorre em blocos (Figura 1), com cerca de 50 mm de dimensão média ou menor, ocorrendo superficialmente, cuja profundidade é da ordem do milímetro e que até o momento não tem um nome consagrado no meio técnico.
Figura 1: Aspecto das fissuras em piso industrial
Em inglês e chamada por crazy – cracking (literalmente fissuras malucas) ou ainda chicken-wire-like pattern (formato de tela de galinheiro); talvez daí venha a denominação mais corriqueira em nosso país de fissura-pé-de-galinha, mas que de pé de galinha não tem nada! Mais apropriado seria fissuras em forma de tela de galinheiro. Às vezes são chamadas por craquelamento superficial, ou fissuras mapeadas, mas que não dão ideia real do problema como a de couro-de-jacaré, termo emprestado dos pavimentos asfálticos (neste, chamada trinca couro de jacaré) pela similaridade do aspecto (Figura 2), mas de gênese diferente.
Figura 2: Trinca tipo couro de jacaré em pavimento asfáltico (Bernocci et al, 2008)
Nos pisos e pavimentos de concreto esse tipo de fissura é formado por variações volumétricas superficiais, causadas tanto pela retração do concreto, por variações térmicas e alternância de ciclos de molhagem e secagem. Normalmente são pouco visíveis, sendo mais evidentes quando o piso foi molhado e está em processo de secagem e formação delas se dá nos períodos iniciais de endurecimento do concreto. Fatores como baixa umidade do ar, ventos, variações de temperatura ambiente e insolação, combinados ou isoladamente são precursores das fissuras couro de jacaré.
Embora tenham aspecto desagradável e poderem acumular sujeira nas pequenas aberturas, o que as torna mais visíveis, não representam deficiência estrutural e necessariamente não indicam o início de alguma patologia mais séria. Algumas vezes pode haver certa confusão com a delaminação, embora o padrão de fissuras não seja tão homogenia como a de couro de jacaré. O controle da sua ocorrência deve ser iniciado imediatamente após a fase de acabamento, principalmente quando este é mais intenso, como no caso do piso desempenado liso espelhado. O controle da sua ocorrência também pode ser feito ou minorado com as seguintes recomendações (ACI 302-1R):
- 1) Não usar água de cura não mais do que 10 o C mais fria que a do concreto: a razão é minimizar o choque térmico, principalmente no caso do emprego intenso de acabadoras superficiais;
- 2) Não alternar ciclos de molhagem e secagem do concreto, notadamente nas primeiras idades;
- 3) Evitar o uso excessivo de réguas vibratórias ou outros dispositivos que favoreçam o argamassamento superficial;
- 4) Não retrabalhar excessivamente a superfície, com bull float ou rodo de corte no concreto com a superfície muito úmida;
- 5) Não efetuar acabamento superficial prematuro;
- 6) Não jogar pó de cimento com o intuito de secar a superfície (água exsudada);
- 7) Não jogar água durante a fase de acabamento;
- 8) Não empregar agregados com teores de argila ou pó elevados.
Após ocorrido o problema, não há como recuperar de maneira simples e prática. Um tratamento viável é a aplicação de líquidos endurecedores de superfície, como tentativa de colmatar as pequenas fissuras e com isso dificultar o acúmulo de sujeira.